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QUANTIFICAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DA FRAGMENTAÇÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA E SEU IMPACTO NOS ESTOQUES DE CARBONO
Conectividade Ecológica. Sensoriamento Remoto. Núcleo Florestal.
O aumento da fragmentação florestal na Amazônia está relacionado a remoção da vegetação, ao aumento de bordas, isolamento de fragmentos e redução da conectividade ecológica, o que compromete os serviços ecossistêmicos, como o sequestro de carbono prestados pela floresta. Assim, entender a dinâmica espaço-temporal da fragmentação florestal na Amazônia, faz-se pertinente, visto que propiciará o incentivo dos estudos sobre o valor estimado do desmatamento e contribuirá para mensurar os impactos nos estoques de carbono, o qual é imprescindível para a conservação da biodiversidade e manutenção dos ecossistemas. À medida que o desmatamento da Amazônia continua, o mesmo acontece com a fragmentação florestal. Pesquisas ecológicas sólidas sobre os efeitos negativos da fragmentação florestal retratam tanto os efeitos negativos das fronteiras florestais quanto a redução do tamanho e menor conectividade desses fragmentos, com reduções dos estoques de carbono acima do solo e da biodiversidade. O sensoriamento remoto, permitiu quantificar o tamanho das bordas e os tipos de elementos da paisagem em toda a bacia amazônica. Este estudo comparou a dinâmica da fragmentação florestal na Amazônia entre 1990 e 2021 um período de 31 (anos) e estimou as emissões de CO2 causadas pelos efeitos da fragmentação, com base em diferentes índices de ecologia da paisagem, bem como na classificação binária de florestas remanescentes em sete unidades de classes e sobreposição de unidades de paisagem de 2021 com estimativas de biomassa/carbono acima do solo do mesmo ano com base em imagens Sentinel 2. As análises foram desenvolvidas na Amazônia Internacional. Para a análise da estrutura da paisagem, utilizou-se o software MSPA (Morphological Spatial Pattern Analysis). O processamento dessas imagens de satélite envolveu a classificação dos padrões espaciais da vegetação e a estimativa do estoque de carbono por meio da integração de dados de biomassa e modelos geoespaciais. Por meio dessa aplicação de morfologia matemática em imagens raster, permitiu-se a identificação e classificação da conectividade estrutural da vegetação e/ou de outras superfícies analisadas. As quantidades de carbono emitidas pela fragmentação foram estimadas a partir do procedimento de extração da biomassa aérea média (em toneladas por hectare) para cada classe morfológica de fragmentação, utilizando produtos de sensoriamento remoto calibrados e modelos geoespaciais validados para a região amazônica (Avitabile et al., 2016). Posteriormente, os valores de biomassa foram convertidos em carbono utilizando o fator de conversão padrão de 0,47 (IPCC, 2006), e, por fim, estimadas as emissões potenciais de CO₂ com base no fator de 3,67, que representa a razão estequiométrica entre o carbono e o dióxido de carbono (C → CO₂). Essa abordagem permitiu estimar de forma indireta, porém robusta, as perdas de carbono relacionadas à degradação estrutural da floresta causada pela fragmentação, mesmo em áreas que permanecem classificadas como "floresta remanescente". Para análise estatística dos dados, foram aplicados teste estatístico Kruskal-Wallis, uma abordagem não paramétrica recomendada quando os pressupostos de normalidade e homocedasticidade não são atendidos, utilizou-se na comparação entre grupos de diferentes áreas e períodos temporais. Foram comparadas sete classes de fragmentação florestal: Núcleo, Borda, Laço, Ponte, Ramo, Ilhota e Perfuração. As áreas de Núcleo, por se situarem afastadas das bordas, concentram as maiores densidades de biomassa e representam os principais reservatórios de carbono da paisagem, sendo fundamentais para a manutenção dos serviços ecossistêmicos e da biodiversidade. Em contrapartida, as Bordas, submetidas a intensos efeitos de borda, como perda de umidade, aquecimento e degradação progressiva, mostram redução significativa no estoque de carbono ao longo do tempo. As classes de Ponte e Laço têm papel funcional na conectividade da paisagem, mas quando degradadas, indicam comprometimento dos fluxos ecológicos entre fragmentos, o que agrava o isolamento e afeta indiretamente os estoques de biomassa. Os Ramos, por serem extensões lineares frágeis conectadas a apenas um núcleo, revelam elevada suscetibilidade à perda e à desconexão estrutural, atuando como precursores do isolamento. As Ilhotas representam fragmentos totalmente isolados, geralmente com baixa capacidade de armazenamento de carbono e alto risco de colapso ecológico. Já as Perfurações, que configuram clareiras no interior das áreas nucleares, indicam processos internos de degradação, contribuindo para a erosão dos estoques de carbono mesmo dentro das áreas aparentemente contínuas. As análises foram conduzidas no software R (versão4.4.0), utilizando a função kruskal.test() do pacote base. Após esse passo, os dados relacionados a categorias de fragmentação que influenciaram diretamente no estoque de carbono foram submetidos à análise de variância (ANOVA). Como o teste indicou diferenças estatisticamente significativas entre os grupos (p < 0.05), procedeu-se com uma análise post-hoc para identificar quais pares de classes diferem entre si. Para isso, foi utilizado o teste de Dunn com correção de Bonferroni para múltiplas comparações, por meio da função dunnTest() do pacote FSA. A correção de Bonferroni foi aplicada para controlar o erro do Tipo I decorrente das múltiplas comparações entre os grupos. Todos os gráficos e visualizações associadas aos resultados foram produzidos com os pacotes ggplot2 e ggpubr, facilitando a interpretação dos contrastes entre os estoques médios de carbono em cada classe. Encontramos uma perda de 672.295 km² de cobertura florestal. A redução da área Core, que concentra florestas mais preservadas, indica o avanço da degradação entre os 9 países. Em um comparativo, a distribuição da fragmentação varia entre os países amazônicos, com a Guiana Francesa apresentando a maior proporção de áreas Core (74,22%), enquanto a Bolívia possui a menor (27,06%). No Brasil, a fragmentação atinge 43,29% da floresta remanescente, refletindo os desafios ambientais do país. A análise também revelou o impacto da fragmentação nos estoques de carbono, com uma perda substancial de biomassa nas áreas mais isoladas. No total, as emissões decorrentes da fragmentação florestal somaram 9,48 Pg (CO2), representando aproximadamente 31,61% das emissões totais do desmatamento no período. Esses resultados sublinham a importância de políticas de conservação que priorizem a proteção dos grandes blocos florestais remanescentes, de modo a preservar os serviços ecossistêmicos e garantir a integridade dos estoques de carbono na região.