A TERRITORIALIDADE CAMPONESA COMO POSSIBILIDADE: Repensando o ordenamento capitalista a partir da comunidade Baixa Grande do Meio, São Bernardo - MA
ordenamento territorial, desenvolvimento, São Bernardo, resistência, autonomia.
A relação de domínio que se estende de um dominador que detêm o poder para um dominado que precisa se dobrar as exigências e imposições do primeiro é um traço da humanidade reconhecido ao longo da história, o poder aspira pela expansão a despeito do que ou quem possa estar em seu caminho. Uma vez triunfante, esse mesmo poder precisa se estabelecer e para tal, faz-se necessário extirpar qualquer possibilidade de os dominados estabelecerem sua sociedade distante dos princípios e leis de seus conquistadores, seja via extermínio, seja alienando estes de sua própria cultura, conhecimentos e formas de conceberem a si mesmos e aos seus territórios. Na contemporaneidade, o capitalismo enquanto modelo econômico e o Estado-nação enquanto modelo político-territorial que triunfaram por praticamente todo o globo não fogem a tal lógica, buscando conformar os territórios que ainda existem em suas particularidades as necessidades e imposições destes e desqualificar qualquer outra forma de ordenamento territorial que não esteja alinhada a seus projetos. No Estado do Maranhão essa relação se materializa, dentre vários exemplos, no conflito entre as diversas formas territoriais marginalizadas (comunidades camponesas, quilombos, terras indígenas, etc.) e a expansão do agronegócio, capitaneada pelo poder público em vias de atender a necessidades privadas e valendo-se de todas as armas a sua disposição: violência, propaganda, assédio jurídico, etc. Situação esta observada na comunidade da Baixa Grande do Meio, município de São Bernardo, em que a expansão da soja coloca em cheque a existência desta, que por seus próprios meios, impõe resistência e demonstra não estar aberta ao pretenso desenvolvimento que a estes lhes é oferecido e os impactos deste conflito revelam que há sim possibilidade de construção da autonomia e bem-viver territorial, possibilidades estas que tornam o exercício de repensar a sociabilidade no capitalismo baseada na concentração de poder e estratificação social como a única possível um exercício menos tortuoso e com mais sinais de esperança de se viver livre de tal crueldade.