ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DAS INFECÇÕES PARASITÁRIAS INTESTINAIS E ANEMIA EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO LESTE MARANHENSE
Comunidades Vulneráveis. Afrodescendentes. População Negra. Doenças Parasitárias.
As parasitoses intestinais são consideradas doenças negligenciadas causadas por agentes infecto-parasitários que produzem prejuízos físico, cognitivo e socioeconômico, com destaque em comunidades de baixa renda. Dentro desse contexto, as comunidades quilombolas geralmente se localizam em áreas rurais, com um relativo nível de isolamento geográfico, desigualdades sociais e de saúde, além de serem desprovidas da assistência à saúde ou dependentes de um sistema de saúde pública com várias problemáticas. Essa pesquisa objetiva avaliar o perfil socioeconômico e epidemiológico das parasitoses intestinais e da anemia na população em Comunidades Remanescentes de Quilombos do Leste Maranhense. Trata-se de um estudo ecológico, transversal com abordagem quantitativa. A população foi constituída pelos moradores das Comunidades Quilombolas de Caxias/MA certificadas pela Fundação Palmares. Após apresentação do projeto, cada morador foi convidado a participar da pesquisa, onde assinaram o termo de consentimento e receberam os coletores descartáveis com conservante e cartão de instrução de coleta das fezes. O questionário, coleta das amostras de fezes e de sangue foram realizados nas residências dos quilombolas, seguindo os devidos procedimentos de segurança biológica. As amostras de fezes foram examinadas pelo Método de Sedimentação Espontânea. As amostras de sangue em tubos de EDTA foram analisadas em aparelho hematológico. Participaram da pesquisa 211 moradores, houve maior frequência do gênero feminino (52,1%, n= 110) de cor parda (60,2%, n=127), alfabetizados (58,8%, n=124), lavradores(as) (34,1%, n=72), vivem com menos de um salário mínimo (63,5%, n= 134), em casas com piso de cimento (38,4%, n=81) e paredes de alvenaria (53,6%, n= 113), esgotos a céu aberto, sem pavimentação nas ruas, água de poços/cacimbas e coada para consumo (50,7%, n=107), dejetos descartados a céu aberto (84,4%, n= 178), presença de animais (93,8%, n= 198), que usam apenas água corrente para lavar frutas e verduras (69,7%, n=147), com o hábito de andar descalço (53,6%, n=113), não utilizaram medicação para verminoses (82,5%, n=174). Das 161 amostras de fezes, 67 (41,61%) encontravam-se parasitadas com pelo menos uma espécie de helminto ou protozoário (parasito ou comensal). Os protozoários foram os mais frequentes na população (80,6%, n=54), sendo os mais prevalentes Entamoeba coli (44,8%, n=39) e Blastocystis hominis (35,6%, n=31). Dentre os helmintos, os mais frequentes foram ovos de Ancylostoma sp. (10,3%, n=9) e Ascaris lumbricoides (3,4%, n=3). Uma maior frequência de amostras monoparasitadas (73,1%, n=49). Houve associação significativa entre a variável “parasitos” e renda familiar (p= 0,002), ocupação dos moradores (p= 0,006), condição de moradia (p= 0,036), uso de vermífugo (p= 0,007), andar descalço (p= 0,034). Das 178 amostras sanguíneas, 37,08% (n=66) com casos de anemia na população, com faixa etária prevalente entre 3 e 10 anos de idade (25,8%, n=17), 59,01% (n=39) gênero feminino e de cor parda (56,1%, n= 37). Os resultados do volume corpuscular médio (VCM) indicaram 64,8% (n=35) dos indivíduos com anemia normocítica e 24,1% (n=13) anemia microcítica. Os resultados da concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) indicaram 59,3% (n=35) dos indivíduos com anemia normocrômica e 40,7% (n=24) com anemia hipocrômica. Houve associação significativa entre as variáveis “parasitos intestinais” e “anemia” (p= 0,036). Por fim, devido aos baixos padrões socioeconômicos e as condições precárias de saneamento básico e higiene, ressalta-se a necessidade de implementação de estratégias que visem eliminar ou reduzir as taxas de parasitos intestinais e de anemia, e assim contribuir para melhorar a qualidade de vida e saúde da população.