ANÁLISE DA SITUAÇÃO DE SAÚDE EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS
Condições de Saúde; População Negra; Acesso aos serviços de saúde.
A análise de situação de saúde trata-se de um processo analítico-sintético que permite caracterizar, medir e explicar o perfil de saúde-doença de uma população, facilitando a identificação de necessidades e prioridades em saúde, principalmente quando se tem o conhecimento de que os reflexos de pobreza afligem de maneira mais intensa as comunidades negras, que independentemente de suas vontades coletivas, são assoladas por problemas de infraestrutura, saneamento e saúde. Esta pesquisa teve o objetivo de analisar as condições de vida, a situação de saúde e o acesso aos serviços de saúde pela população residente nos quilombos do município de Caxias – MA. Trata-se de um estudo ecológico, transversal com abordagem quantitativa, que foi realizado no período de fevereiro de 2018 a julho de 2019 nas comunidades de Jenipapo, Soledade e Cana Brava das Moças. A população do estudo foi constituída por indivíduos com 18 anos ou mais e crianças com até cinco anos de idade. O instrumento utilizado foi o questionário semiestruturado da Pesquisa Nacional de Saúde adaptado para comunidades quilombolas composto por um bloco de informações sobre o domicílio e outro sobre o indivíduo. Os questionários foram aplicados na casa dos próprios indivíduos e o software Epi Info versão 7.2.1.0 foi utilizado para a programação, armazenamento dos dados e estimativas da estatística descritiva da situação de saúde. Fizeram parte do estudo, 103 domicílios, onde observou-se que 62,1% (n=64) não possuem banheiro, 52,4% (n=54) das casas são de alvenaria/tijolo, 28,1% (n=29) das residências têm fossa rudimentar para escoamento dos sanitários, com predominância no abastecimento de água por poço ou nascente, porém identificou-se ausência da coleta de lixo. Verificou-se uma deficiência estrutural de lugares para praticar esporte, fazer caminhada, comprar frutas e/ou legumes. Destaca-se que 86,4% (n=89) dos domicílios são cadastrados na ESF. Dentre os 146 adultos que participaram, 62,3% (n=91) foram do sexo feminino, 25,4% (n=37) com idade ≥ 60 anos, 77,4% (n=113) casados, 54,8% (n=80) se autodeclararam negros e 35,0% (n=51) afirmaram não terem nenhum grau de instrução. Observou-se que 50,7% (n=74) avaliaram como regular sua condição de saúde. Verificou-se que a base alimentar predominante nessas comunidades foi o consumo de feijão e leite e baixo consumo de salada, verdura, legume, carne vermelha, frango e frutas. Identificou-se prevalência de HAS, DM, hipercolesterolemia, anemia, problemas crônicos na coluna e depressão. Evidenciou-se baixa frequência de acidentes e violência. Das 91 mulheres, 83,5% (n=76) já engravidaram e 64,5% (n=49) ficaram gestantes com idade ≤18 anos. Destaca-se que 62,1% (n=18) das mães fizeram 6 ou mais consultas de atendimento pré-natal. Das 36 crianças estudadas, aponta-se uma prevalência de 22,2% (n=8) com estatura muito abaixo para a idade e 13,9% (n=5) com baixa estatura para a idade. Sobre as características de saúde dos 37 idosos quilombolas, 67,6% (n=25) avaliam sua saúde de regular a muito ruim. Os quilombolas costumam procurar a Unidade de Saúde Pública quando precisam de assistência, principalmente por motivo de doença, conseguindo atendimento quando solicita o serviço e avaliam como boa a assistência recebida. Após compreender este cenário, foi possível identificar que a assistência e as condições de saúde entre os quilombolas estão a quem do nível ideal, apontando um desafio para a superação das deficiências encontradas, mas que serviu para dar visibilidade a comunidades que nunca foram estudadas.