ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL E MODELAGEM PREDITIVA DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR NO MARANHÃO, BRASIL: IMPLICAÇÕES PARA AÇÕES DE SAÚDE PÚBLICA
Epidemiologia; Séries temporais; Coronavírus.
A leishmaniose tegumentar (LT), doença parasitária que acomete tegumento e/ou mucosas, se caracteriza como um importante problema de saúde pública em diversas regiões tropicais do mundo. Nas Américas, o Brasil possui a maior ocorrência da doença, especialmente nas regiões norte e nordeste. No maranhão, a dinâmica de distribuição da doença e sua associação com vulnerabilidade social não é bem compreendida. Além disso, o impacto da recente pandemia da COVID-19 nos registros de casos novos da LT ainda não foi bem mensurado. Este estudo analisou a dinâmica espaço-temporal, a influência dos fatores de vulnerabilidade social e o impacto da pandemia de COVID-19 na ocorrência da LT no Maranhão, além de desenvolver um modelo matemático para simular e prever a tendência da incidência nos próximos anos. Para análise geoestatística, foram considerados os casos confirmados do período de 2007 a 2020 obtidos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Foi realizado suavização empírica dos dados através do método bayesiano. A autocorrelação espacial e estatística de varredura foram utilizados para determinação dos conglomerados espaciais e espaço-temporais, além de sua correlação com os indicadores de vulnerabilidade social (IVS). Para avaliar o possível impacto da COVID-19 nos registros de LT, foi aplicada a métrica P-score. Para isso, foram utilizadas informações da incidência mensal da doença no período de janeiro de 2015 a dezembro de 2020. Foi desenvolvido um modelo de previsão baseado na média móvel integrada autorregressiva sazonal, através da abordagem Box-Jenkins, seguindo as fases de pré-tratamento da amostra, identificação/estimação, diagnóstico e previsão dos casos para o período de janeiro de 2007 a dezembro de 2020, com previsão até dezembro de 2025. No período de 2007 a 2020, foram confirmados 26.159 casos de LT, com conglomerados espaciais predominando no oeste maranhense, com discreta expansão para o leste. Todos os domínios do IVS apresentaram correlação positiva com a taxa de incidência de LT suavizada. A análise espaço-temporal identificou um cluster mais provável (primário) e três clusters secundários para alta incidência da doença. No ano de 2020, início da pandemia no Brasil, eram esperados 1.346 casos de LT, no entanto somente 1.158 foram notificados, representando uma queda de 13,94%. A regional de saúde de São Luís apresentou as maiores quedas de possíveis novos registros da doença (-69, 63%). O modelo SARIMA (1,0,2)x(0,1,1)12 apresentou melhor ajuste, portanto, foi o escolhido para realizar uma previsão para o período de janeiro de 2021 a dezembro de 2025, onde a LT apresentou tendência decrescente. Os achados desse estudo sugere que a existência de conglomerados espaciais e espaço-temporais em áreas de grande vulnerabilidade social. Além disso, as subnotificações parecem ter se potencializado com a pandemia de COVID-19. Nesse sentido, é crítico e urgente a otimização de estratégias de prevenção e controle da doença no Maranhão, com priorização de recursos nas áreas de maior necessidade.