Taxonomia integrativa aplicada ao complexo Trichocentrum cepula (Hoffmanns.) J.M.H. Shaw (Oncidiinae-Orchidaceae)
Brasil. Oncidiinae. Citogenética. Filogenia Molecular. Morfometria Geométrica.
O complexo Trichocentrum cepula, constituído de três espécies (T. caatingaense, T. cepula e T. sprucei) endêmicas da América do Sul cisandina, possui delimitações de espécies com interpretações distintas para diferentes autores. Para a obtenção do melhor entendimento sobre os limites das unidades biológicas que o compõe, uma abordagem integrativa foi aplicada utilizando morfometria geométrica, análises citogenéticas (contagens cromossômicas e bandeamento CMA/DAPI) e filogenia molecular (com os espaçadores ITS do DNA ribossomal e rpl32-trnL do DNA plastidial). Na análise morfométrica foram utilizadas 278 flores representando toda a distribuição do complexo no Brasil. Seguindo a circunscrição vigente e considerando as três espécies como entidades distintas, as análises mostraram que T. sprucei se separa das demais com base na variação da porção superior dos lobos medianos. A sobreposição morfológica entre T. caatingaense e T. cepula corrobora sua sinonimização. Numa segunda análise utilizando 160 flores destas duas últimas espécies organizadas em seis pseudo-populações, foi possível observar quatro grupos morfológicos, sendo um deles referente à T. caatingaense (Pop.1 e 2), e dois referentes a nomes atualmente considerados sinônimos de T. cepula (T. glaziovii – Pop. 3 e 5, e T. wittii – Pop. 6), um quarto grupo (Pop. 4) sem um nome disponível a ser aplicado. As análises citogenéticas mostraram que todos os espécimes possuem 2n=36 cromossomos, com dois tipos de heterocromatina, com bandas CMA+ nas regiões terminais e bandas DAPI+ nas regiões pericentroméricas dos cromossomos. As bandas DAPI+ pericentroméricas apresentaram uma elevada variação no número e tamanho em uma mesma célula, tal variação ocorre entre as espécies, as pseudo-populações e localidades, ou até mesmo entre espécimes de uma mesma localidade. Os espécimes analisados exibiram bandas DAPI+ pericentroméricas que variaram de 16 bandas em alguns representantes do Pará (T. sprucei, bacia amazônica) até 28 bandas em representantes da Pop. 6 (T. cepula). Já as bandas CMA+/DAPI˗ terminais variaram de duas bandas na Pop. 2 e Pop. 6 até 24 bandas em representantes da população do Pará. Na análise filogenética para a matriz de ITS com 19 terminais, as análises de BI e ML geraram árvores similares, e revelaram que o complexo está agrupado num clado fortemente sustentado, evidenciando monofiletismo. Outra análise (BI e ML), agora com 13 terminais, as árvores geradas também foram similares, com espécimes das Pops. 1 e 2 formando um clado irmão dos demais terminais; e os espécimes previamente identificados como T. cepula e T. sprucei misturados num clado fortemente sustentado. Nossos dados apontam para sobreposição da morfologia da principal estrutura usada na taxonomia desse complexo, nesse caso o labelo, para sinonimização de T. caatingaense em T. cepula, entretanto, os dados filogenéticos apontam uma maior correlação entre T. cepula, um táxon polifilético, e T. sprucei; os dados citogenéticos evidenciaram a variação morfológica observada no grupo deixando claro que taxonomicamente é mais estável tratar as populações brasileiras em um único nome, nesse caso, T. cepula, nome mais antigo.