CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DO EXTRATO CORPORAL DA FORMIGA Paraponera clavata (HYMENOPTERA: FORMICIDAE) NA PROSPECÇÃO DE MOLÉCULAS BIOATIVAS
Himenópteros, Peptídeos, Peçonha, Farmacocinética, Terapêutico.
As formigas formam um grupo globalmente dominante, contribuindo com uma grande proporção da biomassa da fauna terrestre. Várias espécies de formigas são utilizadas como recurso medicinal e constituem um grande arsenal de compostos ativos, sendo comumente utilizada na entomoterapia, além de apresentar uma ampla gama de atividades biológicas. Existem grupos que são citados dentro da cultura popular, especialmente na etnofarmacologia, como a espécie Paraponera clavata, popularmente conhecida como Tucandeira ou Tocandira, que são utilizadas para tratamentos como asma, problemas reumáticos, artrite, dores de ouvido, dores nas costas, alcoolismo e dores difusas. São também conhecidas por possuírem ferroada extremamente dolorosa. A maioria das espécies de formigas possui sistemas funcionais de peçonha derivados de ovipositores, principalmente para defesa e predação. As peçonhas de formigas são misturas complexas de proteínas, peptídeos e pequenas moléculas. Apesar de sua importância biológica e grande potencial, a maioria das peçonhas de formigas não foi caracterizada, gerando a incapacidade dos investigadores em identificar seus componentes. Nesse contexto, os objetivos deste trabalho foram: 1) Descrever o uso de formigas na medicina popular; 2) Investigar as propriedades antioxidantes e identificar os componentes responsáveis por esta atividade no extrato corporal de P. clavata e 3) Analisar, in silico, a presença de peptídeos bioativos na sequência da poneratoxina, a principal toxina presente na formiga P. clavata. Este estudo explorou o uso tradicional das formigas na medicina popular, destacando suas aplicações medicinais, métodos de preparo e doenças tratadas. Quanto ao uso popular identificamos 30 espécies de formigas com destaque para o gênero Atta, seguido dos gêneros Polyrhachis e Oecophylla. Essas formigas são utilizadas moídas, esmagadas, transformadas em chás ou extratos, ou ainda utilizada a peçonha. Os tratamentos mais citados foram à asma, seguidos de problemas reumáticos, artrite, dores de ouvido, dores nas costas, alcoolismo e como analgésico. Destacam-se as espécies dos gêneros Atta, Polyrhachis e Oecophylla por apresentar uma ampla gama de aplicações medicinais. Quanto as propriedades antioxidantes, o extrato bruto de P. clavata foi melhor solubilizado em solução NaCl 0,9%. O extrato apresentou atividade antioxidante nos ensaios de captura direta dos radicais DPPH e ABTS. A fração hexânica apresentou leitura a 280 nm, a fração de diclorometano apresentou um pico de absorção a 270 nm e a fração acetato de etila apresentou um pico de absorção a 259 nm, sugerindo que diferentes moléculas foram isoladas. A análise do extrato em HPLC, utilizando coluna C18, revelou detecção a 220 nm, sugerindo a presença de peptídeos e proteínas. Por fim, a análise in silico da ÿ-paraponeritoxina investigou as propriedades farmacológicas de quatro peptídeos obtidos a partir da sequência primária de ÿ-paraponeritoxina. Os estudos revelaram que os peptídeos apresentam, em diferentes graus, potencial atividade antiviral, antibacteriana e antifúngica, bem como potencial citotoxicidade contra linhagens celulares de melanoma (SK-MEL-28), mieloma múltiplo (RPMI-8226), carcinoma pancreático (PANC-1) e mieloma de células plasmáticas (U-266). Esses achados ampliam o conhecimento sobre o potencial medicinal das formigas e suas peçonhas e suportam estudos futuros para a síntese destes peptídeos em laboratório e investigação de suas propriedades in vitro.