22 jan, 2020 • 11:29
No dia 17 de janeiro de 2020 ocorreu, no Centro de Criatividade Odylo Costa filho, galeria Veldelino Cécio, Praia Grande, São Luís, o lançamento do livro Miração, de autoria da antropóloga e poeta Cynthia Carvalho Martins.
O livro “Miração” reúne 41 poemas, um texto da autora, um prefácio e um posfácio, escritos respectivamente pela jornalista e professora da Universidade Federal do Maranhão, Jane Maciel e pela escritora, poeta e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Camila do Valle. No texto relativo ao livro a autora discorre sobre a dimensão política da poesia e da linguagem. Ela considera que a poesia, mesmo com as suas transgressões, possui limites, relacionados à dependência a uma forma escrita; a exclusão de distintas linguagens e à associação da poesia ao meramente ficcional e espontâneo. Nesse sentido, para ela a poesia é ruptura. Associa-se a uma construção que envolve uma valorização dos saberes, um desatrelamento da linguagem considerada legítima e uma postura reflexiva. Os limites entre o “real” e “ficcional” são repensados; a percepção é considerada uma construção.
O artista plástico Mondego, vestido de Exu circulou o evento, defumando o salão de realização da cerimônia. Apresentou-se a cantora e escritora Djuena Tikuna, indígena do povo Maguta, cujo nome significa a “onça que pula o rio.” Ela, juntamente com Diego Janatã tem se apresentado em distintos estados e países proferindo um canto em defesa dos povos indígenas.
Além dos poemas do livro Miração outros poetas se manifestaram declamando suas próprias poesias, tal Rosa Tremembé, mestra em Cartografia Social e Política da Amazônia.
A poeta Cynthia Carvalho Martins conseguiu vender um total de setenta livros em um intervalo de 2 dias. Essa contabilidade corresponde aos 45 livros vendidos no dia do lançamento e os adquiridos no dia seguinte ao lançamento. Cada livro foi vendido por R$ 30,00 e o valor total das vendas correspondeu a R$ 2.100,00 reais.
Assim se expressa a poeta sobre essa venda:
“Fiquei surpresa com a venda, considerando a crise que estamos vivendo e o caráter improvisado do lançamento. Quando falo improvisado destaco o seguinte: não recebi qualquer incentivo privado ou governamental para realizar o evento, nem para publicação do livro e não tinha noção exata de quais convidados estariam presentes. Então não tinha como montar previamente as apresentações, as coisas foram acontecendo. Não fiquei sentada dando autógrafos, estava de alguma maneira coordenando o palco, a cozinha, recebendo os convidados, participando de alguns rituais, enfim, ninguém tinha uma atuação pré-definida e nada foi programado. Ninguém recebeu pagamento pelo evento, contei com o acionamento de uma coletividade. As fotografias foram feitas por Isadora Pinheiro que não recebeu nada; os artistas foram como voluntários. Mas foi legal e em nenhum momento me senti dividida, tudo fluiu bem. Mas o que quero dizer é que as vendas tiveram relação com a divulgação, que foi boa, via o site Agenda Maranhão, e porque os que estavam presentes estavam inseridos em uma dimensão coletiva e sempre levavam outras pessoas. Aliás, essa dimensão coletiva tem uma força. Por esse motivo hoje temos um investimento político de destruição dos coletivos. É contra o coletivo que a visão individualista do mercado investe. Talvez as vendas, por incrível que pareça, tenham a ver com esse coletivo. Sim, porque hoje as pessoas estão querendo comprar livros sem financiamento de empresas, produzidos com autonomia. Nós, como escritores não podemos atrelar nosso trabalho a empresas que destroem vidas. Esse filantropismo tóxico, na concepção do antropólogo Alfredo Wagner, deve ser combatido. É essa autonomia que gera o diferencial em tempos de luta. Meu livro vendeu bem justamente porque está desatrelado de qualquer institucionalidade”.
Site para aquisição do livro:
Seguem os poemas: http://www.estantevirtual.com.br/livros/cynthia-carvalho-martins/miração
Poemas do livro Miração
Luta
Os nós das dominações
Abriremos
Desarmemos
Com as unhas.
Retorno à mãe terra
Para Ivan Costa Quilombo, Centro de Cultura Negra, Maranhão.
Meus olhos de mandala,
Giravam coloridos,
Davam sentido ao que era visto de todos os formatos.
Ao redor da terra cavada,
Círculos de almas entoam cânticos,
Sobre a luta do povo negro.
Palmas ritmadas,
Ritual de flores em ti,
Tambores em ti,
Averekete em ti.
Teu corpo colocado suavemente
Naquela que te derrete.
A terra recebe-te.
Desfaz-te tanto.
E nós te refazemos em tua ausência,
És colocado por teus irmãos,
Flores de muitas cores,
Vão brotar,
As lágrimas já molham,
O entoar do canto de guerra.