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PARA ALCANÇAR A AUSÊNCIA, APESAR DAS FRATURAS: a escrita do indizível em O corpo interminável, de Claudia Lage
Narrativa do trauma. Literatura de testemunho. Ditadura militar. O corpo interminável. Literatura brasileira contemporânea.
O corpo interminável (2019) é um romance contemporâneo escrito pela autora brasileira Claudia Lage, e seu enredo envolve indivíduos que estão inseridos no contexto de vivência ou herança da experiência da ditadura militar no Brasil. Trata-se, portanto, de uma obra literária que evidencia a necessidade de escrita de eventos catastróficos, mas que, pelo absurdo da sua realidade, se tornam irrepresentáveis. Neste romance, existe a busca por um passado que, embora calado, permanece vívido, e que ainda ressoa por meio de lacunas, ausências, vazios e memórias fraturadas. No romance, Claudia Lage opta por caminhos narrativos que perseguem uma memória que precisa ser transmitida, ainda que por intermédio de uma elaboração ficcional, pois apenas a sua constante recuperação poderá evitar que os atos de violência se repitam. Partindo do paradoxo da narrativa impossível, mas necessária, buscamos enfatizar, diante do corpus literário e da chave de leitura da narrativa do trauma e da literatura de testemunho, os dilemas nascidos a partir da confluência entre a importância de dizer a impossibilidade de falar. Nosso objetivo circunda a investigação dos aspectos estéticos e formais mobilizados por Claudia Lage para construir um enredo que alcance as experiências bárbaras e auxilie na compreensão de situações-limite. Assim, esperamos examinar O corpo interminável enquanto narrativa traumática de teor testemunhal, a fim de identificar os mecanismos estéticos utilizados para transmitir a necessidade e a relevância do testemunho de sujeitos impactados, individual ou coletivamente, pela ditadura militar no Brasil, mas que se encontram diante de uma dificuldade de falar condicionada por suas vivências. O deslocamento aqui pretendido envolve o suporte teórico de Adorno, Antonello, Benjamin, Figueiredo, Freud, Gagnebin, Ginzburg, Levi, Schøllhammer, Seligmann-Silva, entre outros, no esforçocrítico de perceber as construções do romance enquanto obra ficcional que invoca a aporia do indizível gerado por um trauma histórico. Ao final, esperamos contribuir para a caracterização política e literária do romance, pois, ao explorar a estética do horror produzida em O corpo interminável, acreditamos ser possível vislumbrar a relevância da impossível representação do trauma na literatura brasileira contemporânea.