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POR ONDE ANDA O NARRADOR? DESOLAMENTO E APATIA EM ESTORVO, DE CHICO BUARQUE DE HOLLANDA
Estorvo; Narrador; Sujeito fragmentado; Deslocamentos.
Estorvo (1991) é o primeiro romance publicado por Chico Buarque de Hollanda, no qual nos deparamos com uma narrativa tensa, dividida em onze capítulos em que um narrador personagem, atônito e em trânsito na cidade, encontra pessoas e lugares estranhos em situações excepcionais. Este narrador não consegue dimensionar suas relações sociais afetivas, e nem mesmo se encontrar em um lugar de tranquilidade, assume o papel de andarilho, com características que são refletidas em sua identidade vagante. Assim, considerando a estrutura narrativa da obra escolhida, evidenciaremos como esse sujeito sem identidade tenta fugir da realidade que o impede de viver, estando sempre em constante nomadismo, que nega o mundo empírico de suas aparências e passa a tratar sua condição de humanidade alheio à realidade social vigente. Daremos , também, enfoque ao fato de que o narrador manifesta um certo abatimento moral que se espaia na fragilidade das relações afetivas que estabelece, principalmente com sua família. Neste sentido, como objetivo principal, tentaremos compreender como esse narrador se fragmenta ao longo e dentro da narrativa e de que maneira ele nos convida a conhecer sua história, ainda que seja difícil definir sua naração, pois ele se mantém constantemente em uma zona limite, a zona do desespero, do susto e do trauma, o que enfraquece seu poder de onisciência. Desse modo nosso trabalho se articula, inicialmente, na intenção de estudar os principais conceitos teóricos que se voltam para o narrar na contemporaneidade e para a crise a cerca de questões da identidade, para isso recorremos a Benjamin (1986, 1994), Lukács (2007, 2008), Adorno (2003), Ginzburg (2012), Hall (2004, 2005) e Bauman (2005), teóricos e críticos literários que se debruçaram sobre a ascensão do gênero romance, seu esfacelamento, crise de narração e a fragmentação do sujeito na contemporaneidade. Diante disso, vê-se que o romance Estorvo e sua estrutura narrativa ganham relevo na nossa análise, e, por fim, interessa-nos mostrar como o narrador do romance se movimenta, analisando seus deslocamentos em meio a vida urbana caótica, que o obriga a permutar-se continuamente e, ao mesmo tempo, perfazer-se como andarilho de lugares-enigmas.