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O ANDARILHO E O LABIRINTO UROBÓRICO DA ESCRITA EM NÃO TIVE NENHUM PRAZER EM CONHECÊ-LOS, DE EVANDRO AFFONSO FERREIRA
Andarilho da escrita; Metaficção; Ficção contemporânea; Evandro Affonso Ferreira.
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras – PPG-LETRAS, do Curso de Letras da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, como parte dos requisitos necessários para
obtenção do título de Mestre em Letras (Teoria Literária).
Não tive nenhum prazer em conhecê-los, de Evandro Affonso Ferreira, é um romance construído a partir de uma arquitetura narrativa fragmentada-epigramada, cujo narrador-personagem-escritor-andarilho, na escrita de suas
‘retrospectivas lamuriosas’, faz cintilar a imagem de um sujeito estilhaçado. ‘Desmemoriado’, imerso na melancolia, no luto e na solidão, o narrador transita pernóstico entre seu ‘quarto-claustro’ e as ruas de uma ‘metrópole apressurada’ em busca das palavras para contar a si mesmo. Diante destes apontamentos, urge uma narrativa descontínua, empreendida não no apaziguamento da linguagem, mas na fissura e na (im)possibilidade de ser e dizer, de tal maneira que o caminhar – da personagem e do movimento de escrita – não é um gesto tranquilo, mas errante. Neste sentido, este trabalho propõe uma leitura de Não tive nenhum prazer em conhecê-los, intentando perceber de que maneira o ato caminhar e o ato escrever reverberam sobre a subjetividade do narrador-personagem, agindo como um retorno a si mesmo no empreendimento de escrita na medida em que o faz refletir sobre a sua condição e as implicações da idade nonagenária. O que se põe em questão parte da hipótese de que o narrador, metaforicamente o andarilho da escrita, caminha em direção a um ato de se escrever, ao mesmo tempo em que questiona este ato e a própria escrita. Neste sentido, secionamos nossas
discussões analisando, primeiro, as imbricações subjetivas da condição estilhaçada do narrador-personagem e, em seguida, o artifício de construção da obra pelos imperativos do caminhar e do escrever. Privilegiamos a
abordagem da metaficção para acessar os processos de construção da arquitetura narrativa, que se utiliza de artifícios metaficcionais. Nesse sentido, a metaficção é tomada aqui como uma chave de acesso à obra e entendida como um esforço crítico necessário para entender a produção ficcional contemporânea e, também, como uma constituinte intrínseca da narrativa do romance de Evandro Affonso Ferreira, na medida em que ela se dobra e redobra sobre si mesma, abrindo inúmeros questionamentos e afastando-se na medida em que se deixa ver de perto.