Telefone/Ramal: | Não informado |
A violência legitimada na ordem social: uma leitura de O matador,Patrícia Melo.
O matador. Patrícia Melo. Ficção brasileira. Representação da violência.
Desde o início do século XX, a ficção brasileira sugere a presença da violência no meio urbano como elemento constituinte da vida do homem. Não obstante, a partir da segunda metade do século XX, a ficção torna a violência mais enfática, ao mostrar esse acontecimento pela voz do narrador: um personagem da classe operária, partícipe do caos, instaurado no cenário urbano. Desse período, destaca-se a obra O matador, de Patrícia Melo que, ao conceder voz e poder a um jovem simples, cuja função é assassinar por encomenda, mostra, sem desvelos, a violência extrema e banalizada, por meio de cenas repetitivas e exaustivas de agressões. Considerando-se essa ficção de Patrícia Melo um marco importante para literatura brasileira, haja vista a linha tênue que separa a obra da realidade violenta, esta pesquisa apresenta uma análise da segunda edição de O matador (Rocco, 2009), visando ratificar que nela a representação da violência atesta a existência e a prática de violências, que versa para o desrespeito à vida humana, sublimada por meios cruéis, que vão do uso extremo da força vital à legitimação desse uso pela sociedade. A metodologia é a de revisão de literatura, tomando por suporte teórico as considerações de Michel Foucault (1996, 1999), Jaime Ginzburg (2017), Perrone-Moisés (2016), Tânia Pellegrini (2002, 2008), Regina Zilberman (1994), Karl Schollhammer (2000, 2009), entre outros pesquisadores, sobre a representação da violência na literatura universal e na literatura brasileira; além da revistação de estudos de Hannah Arendt (2013), Marilena Chauí (2018), Alba Zaluar (1998), Silvia Carbone (2008), entre outros, respectivamente, sobre violência e poder, e violência praticada por indivíduos postos à margem social. Da análise da obra, certifica-se que Patrícia Melo é uma ficcionista engajada em representar a violência pelo exercício da força brutal, empregada como recurso autoritário de manutenção e controle da ordem social, em espaços onde vigoram o poder paralelo; sugerindo, assim, a existência de fissuras sociais no Brasil.