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CAROLINA MARIA DE JESUS: TESSITURA DA ESCRITA COMO IDENTIDADE
Carolina Maria de Jesus. Escrita de si. Escrita feminina. Subjetividades.
Carolina Maria de Jesus sob o olhar da obra Quarto de Despejo: diário de uma favelada (1960) alvitra por meio da escrita autobiográfica uma releitura sobre a condição de negras e negros no Brasil, a partir de experiências femininas opressoras, emersas num contexto racista, sexista e com conflituosos conceitos de classe, gênero. Ao mesmo tempo, permite análises sobre esse corpo que escreve como resgate de sua identidade de mulher negra fracionada, cuja subjetividade foi subjugada por muitos anos. Este trabalho parte da perspectiva da escrita de si para analisar a tessitura textual confessional e problematizar como isto é um importante componente no sentido de forjar a subjetividade para a narradora e, de modo simultâneo, entender qual a imagem que a personagem cria de si numa concepção de construção identitária feminina teorizando a favela e fazendo este conjunto de moradias conhecido e muito além de excrementos e depósitos de pessoas. À pesquisa também recai sobre escritas autobiográficas e literaturas de mulheres afrodescendentes, a relevância destas para o cenário literato, assim como discute a literatura social valendo-se dessa narrativa, do lugar que é escrita e os discursos que são reiterados pela autora. Discute conjuntamente sobre o lugar de fala, as questões interseccionais de gênero, raça e classe e ainda acerca das estruturas do racismo presente em nossa sociedade. O estudo é qualitativo de cunho bibliográfico, crítico literário, interdisciplinar argumentado por visões teóricas e dentre estas as de Perpetua (2011), Moisés (2016), Hall (2006), Pollak (1992), Meihy (1998) no que tange à construção do tecido literário como identidade na obra em estudo e no que se refere à escrita como ferramenta de luta contra o silenciamento de vozes negras e discussões acerca da condição social de ser negro com fundamentos em Evaristo (2009), Ponce (2016), Davis (2016), Ribeiro (2019), Kilomba (2019), Carneiro (2019), Hooks (2019). Em diálogos sobre a escrita de si, autobiografias femininas autores como Rago (2013), Lacerda (2003), Lejeune (1997), Faedrich (2009). A importância deste trabalho dá-se ainda por entender a literatura como mecanismo de transcendência, de conversas reflexivas sobre o lugar que se ocupa quando se é mulher ou quando nos tornamos uma.