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DESCOBRINDO ANGOLA: o discurso poético de Viriato da Cruz e a luta pela Independência
Discurso; Poesia; Liberdade.
Submersa num mar desconhecido, esta dissertação lança luz sobre a literatura de Angola, ao propor uma análise inédita do discurso pela independência na obra de Viriato da Cruz. A motivação para este estudo reside no pouco que dele se sabe, do desconhecimento da importância que teve sua curta produção literária no engajamento popular nos movimentos pela liberdade. Com foco nas estratégias retórico-discursivas de mobilização política em sua única obra publicada, Poemas (1961), apresentada como recurso desencadeador do processo de descolonização do continente africano, realiza-se uma pesquisa documental e bibliográfica, utilizando a abordagem teórico-metodológica da Análise do Discurso Crítica de Fairclough (1989, 1992, 2003), Wodak e Meyer (2001), para compreender o papel ideológico do discurso literário na produção, manutenção e mudança das relações sociais de poder. A polifonia discursiva acerca da e contrário à ideologia colonialista apresenta uma perspectiva inexplorada que a insere no cerne do Regime Salazarista, inspirado pela bio-política darwinista e pelo luso-tropicalismo brasileiro de Gilberto Freyre (1933, 1940). O contraponto discursivo é construído por ele nos limiares do marxismo, ao desafiar estruturas hegemônicas como o eurocentrismo, o patriarcalismo e o etarismo progressista. Investiga-se, ainda, como um movimento intelectual cujo lema: “Vamos Descobrir Angola!”, mobilizou uma inquietude popular que resultou na criação do Movimento Popular de Libertação de Angola, fazendo nascer no recém-poeta um político incansável. Esta pesquisa revela como escolhas linguísticas, gramaticais, semânticas e sintáticas, incluindo a lexicalização da língua do colonizador (o português europeu) e a língua bantu africana do colonizado (o quimbundo), engendram uma riqueza intertextual capaz de, em um único verso, entrelaçar cantiga trovadoresca e poesia concreta brasileira. Com isso, Viriato da Cruz enfrenta a ideologia do Estado Novo e faz da poesia um convite à revolução, testemunhando que no discurso literário habita um desconhecido e poderoso veículo de transformação social.